SANDRO GOMES DE OLIVEIRA. Diretor do Centro de Educação Teológica e Evangelística Shekinah.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Lutero como Teólogo

Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, filho de um minerador de prata de classe média. Destinado para o estudo de Direito, voltou-se para o mosteiro, no qual, após muitas lutas, desenvolveu uma nova compreensão de Deus , da fé e da igreja. Isso o envolveu num conflito com o papado, seguido de sua excomunhão e da fundação da Igreja Luterana, a qual presidiu até morrer, em 1546.

Essas três frases resumem a vida de Lutero. Contudo, alguém que acredite que um resumo desses ou mesmo uma extensa biografia que apresente sua obra durante toda a vida sob o aspecto dos acontecimentos externos possa realmente explicar Lutero, mal penetrou a superfície da matéria. Certa vez, Paul Althaus referiu-se à Lutero como um "oceano". Essa imagem aplica-se não somente à enorme produção literária de Lutero, mais de cem fólios na grande edição de Weimar, mas também à sua poderosa originalidade e enervante profundidade. Apenas dois outros teólogos na história da igreja, Agostinho e Aquino, aproximam-se da estatura de Lutero; apenas outro conjunto de escritos, os próprios documentos do Novo de Wittenberg. Não é difícil afogar-se num oceano assim.
Foram feitas diversas tentativas de interpretar Lutero sob o aspecto de sua influência mais tarde na história. A historiografia católica tradicional retrata um monge louco, um psicótico demoníaco derrubando os pilares da Igreja Mãe. Para os protestantes ortodoxos, Lutero foi o cavaleiro divino, um Moisés, um Sansão (demolindo o templo dos filisteus!), um Elias, até mesmo o Quinto Evangelista e o Anjo do Senhor. Para os pietistas, foi o bondoso apóstolo da conversão. Os nacionalistas alemães celebravam-no como herói do povo e "pai de seu país"; os teólogos nazistas fizeram dele um proto-ariano e o precursor do Führer. Significativamente, os textos de Lutero podem ser citados em defesa de cada uma dessas caricaturas. nenhuma delas, entretanto, considera seriamente a própria auto-compreensão de Lutero, que é onde uma avaliação satisfatória de sua teologia deve começar.
Longe de tentar fundar uma nova denominação, Lutero sempre viu a si mesmo como um fiel e obediente servo da igreja. Daí seu profundo desgosto pelo fato de os primeiros protestantes, na Inglaterra e na França, assim como na Alemanha, terem sido chamados "luteranos":

"A primeira coisa que peço é que as pessoas não façam uso de meu nome e não se chamem luteranas, mas cristãs. Que é Lutero? O ensino não é meu. Nem fui crucificado por ninguém. {...} Como eu, miserável saco fétido de larvas que sou, cheguei ao ponto em que as pessoas chamam os filhos de Cristo por meu perverso nome?"

Essa renúncia, escrita em 1522, não era o protesto de uma falsa humildade, mas, sim, um real esforço de reduzir um "culto a personalidade", já em surgimento, e dirigir a atenção à fonte do pensamento do reformador. "O ensino não é meu." Compreender o que Lutero quis dizer com essa afirmação é apreender o impulso central de sua teologia da Reforma.

Fonte: George, Timothy/ Teologia dos Reformadores- São Paulo: Vida Nova, 1993.

No serviço do Mestre, www.prsandrogomes.com.br

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