SANDRO GOMES DE OLIVEIRA. Diretor do Centro de Educação Teológica e Evangelística Shekinah.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

DEUS ESTÁ MORTO?

Na metade da década de 60 evidenciou-se um grande interesse por um movimento filosófico que acreditava que Deus estava morto. Deus morreu? A pergunta é válida e a resposta é não. 
     Então por que não temos notícia dele? Por que Deus permanece em silêncio? Por que ele não se revela de forma que todos possam vê-lo?
     A Bíblia diz que Deus falou. Ele se revelou na história. Cada página do Antigo e Novo Testamentos apresenta evidências da revelação de Deus. O auge de sua revelação se deu quando ele tomou a forma de homem na pessoa de Jesus Cristo. "Havendo Deus antigamente falado de muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por quem fez também o mundo" (Heb. 1: 1,2).
     Desde o tempo de Cristo e da composição dos documentos do Novo Testamento não houve outras revelações da parte de Deus. A redação das Escrituras inspiradas foi concluída como os escritos dos apóstolos de Cristo e de seus discípulos.
     A próxima vez em que Deus intervirá abertamente nos assuntos humanos será quando voltar na pessoa de Jesus Cristo. Nessa ocasião todo  olho o verá. "Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram; e todas as nações da terra se lamentarão sobre ele..." (Apoc. 1.7).
     O silêncio de Deus é uma comprovação de sua paciência. Deus continua esperando que as pessoas se arrependam de seus pecados. "O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; porém é logânimo para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se" (II Ped. 3:9).
     Mas se Deus aparecesse hoje as pessoas não seriam levadas a crer? Não. Embora elas não conseguissem negar a existência de Deus, sua presença não levaria todos a confiar nele. Uma coisa é crer que Deus existe, outra bem diferente é confiar-se a ele.
     Jesus comprovou na sua época, sem sombra de dúvida, que ele era o Messias, o enviado de Deus Pai para salvar o mundo. No entanto, a maioria das pessoas atribuiu seus milagres ao Diabo e acabaram por crucificá-lo. E não foi por falta de provas. Foi porque não queriam crer. Hoje em dias as pessoas podem dizer que se tornariam crentes se Deus aparecesse pessoalmente a elas, mas isso não é necessariamente verdade. O problema não é tanto uma questão de provas, mas sim do coração humano. O profeta Jeremias disse: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o poderá conhecer?" (Jer. 17.9). Mesmo que Deus aparecesse em público, isso não provocaria uma explosão de fé nele.
     Os cristãos, contudo, aceitam o registro bíblico. Eles estão seguros de que Jesus Cristo era o próprio Deus. Estão convencidos de que Deus vive e continua executando seu plano para o universo; embora não tenha mais se revelado, continua operando nos corações e vidas dos homens.

Fonte: Stewart, Don - 103 perguntas que as pessoas mais fazem sobre Deus - Tradução de César de F.A. Bueno Vieira. 2ª ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1988.
   

segunda-feira, 13 de maio de 2019

O SIONISMO CRISTÃO




“Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12.3) – Deus falando a Abraão.

     Nos últimos dois anos, nos EUA, a comunidade secular e alguns membros da comunidade religiosa acordaram para o fato de que a maior parte dos evangélicos é pró-Israel. E, adivinhem? Eles não gostaram nem um pouco. A mídia está cheia de artigos sobre os supostos perigos do apoio que os cristãos dão a Israel. Um dos que mais chamou a atenção foi publicado na edição de 23 de maio de 2002 no Wall Street Journal, com o título: “Como Israel se tornou a causa predileta da direita cristã”. Algumas pessoas ficaram horrorizadas com isso.

O Sionismo Cristão na Atualidade
     No início, citei Gênesis 12.3, onde Deus promete abençoar os que abençoarem Abraão e seus descendentes (isto é, Israel). Será que essa promessa ainda está valendo? Se a Bíblia deve ser interpretada literalmente e essa passagem ainda se aplica a Israel, e não à Igreja, ninguém deveria se surpreender que crentes – entre os quais me incluo – abracem o sionismo cristão. O sionismo é simplesmente o desejo de que o povo judeu ocupe a terra de Israel. Portanto, cristãos sionistas são todos aqueles que defendem essa causa.

     No primeiro semestre de 1992, a revista Christianity Today (Cristianismo Hoje) publicou uma matéria de capa sobre o sionismo cristão. O artigo For the Love of Zion (Por amor de Sião) foi escrito num tom geral de crítica aos cristãos sionistas, o que é normal em se tratando da Christianity Today. O texto dizia que o apoio dos evangélicos a Israel ainda era grande, mas já havia atingido seu ponto máximo e estava em declínio. Entretanto, atualmente, mais de uma década depois, a opinião geral é de que o sionismo cristão vem crescendo. Entretanto, o número de cristãos que se opõem a ele também tem aumentado.

     Em fevereiro de 2003, a Organização Sionista da América divulgou os resustados de uma extensa pesquisa de opinião realizada pela empresa especializada John McLaughlin e Associados. A análise dos dados indicava um crescente apoio dos americanos ao moderno Estado de Israel, em detrimento do Estado palestino. O resultado foi: 71% dos americanos se opunham à criação de um Estado palestino e quase a mesma porcentagem se opunha a qualquer apoio aos árabes palestinos. A maior parte desse apoio a Israel vem, certamente, dos chamados cristãos sionistas.

Cristãos Anti-Sionistas
     Pela primeira vez na história, cristãos declaradamente anti-sionistas (muitos deles evangélicos) parecem estar promovendo uma campanha cada vez mais intensa contra Israel. Um documento  publicado no site do Seminário Teológico Knox, fundado e presidido por D. James Kennedy – que, curiosamente, não assinou – acusa os que dão apoio  ao moderno Estado de Israel de estarem envolvidos “num grave erro de interpretação da Sagrada Escritura”. Ora, não me digam!

     Stephen Sizer está escrevendo um volumoso livro contra o sionismo cristão, intitulado Christian Zionism: Fueling the Arab-Israeli Conflict (Sionismo Cristão: Pondo Lenha na Fogueira do Conflito Entre Árabe e Judeus), que será lançado pela Inter-Versit Press. Imagino que essa ideia tenha se tornado tão forte que os editores acharam necessário publicar esse livro.  Collin Chapman também escreveu um livro que, em essência, é anti-sionista: Whose Promised Land? The Continuing Crisis Over Israel and Palestine (De Quem é a Terra Prometida? A Crise Interminável que Envolve Israel e a Palestina, Baker, 2002). Nesse livro ele tenta refutar o ensinamento bíblico sobre o direito do povo judeu à terra de Israel.

     Durante muitos anos, Gary DeMar exibiu se anti-sionismo nas muitas versões de Last Days Madness (A Loucura dos Últimos Dias). Num apêndice intitulado “Anti-Semitismo e Escatologia”, DeMar cita um trecho do livro Armageddon Now! (Armagedom Já!), escrito por Dwight Wilson, dizendo que o pré-milenismo fomentou o anti-semitismo durante o Holocausto. Wilson e DeMar fizeram uma afirmação ridícula que não tem o menor fundamento histórico. DeMar escreve: “Wilson afirma que foi a concepção dos pré-milenistas a respeito de uma perseguição predita aos judeus antes da Segunda Vinda que fez com que eles ficassem inativos quando chegou a hora de denunciar o odioso ‘anti-semitismo’.” 

     O modo como Wilson, e depois DeMar, interpretam os registros dos pré-milenistas a respeito desse assunto está totalmente errado. O historiador David Rausch afirma corretamente que:
     Essa teoria do “anti-semitismo fundamentalista” não só é tendenciosa, como está totalmente equivocada. Os protestantes fundamentalistas não, e nunca foram, anti-semitas. Na verdade, o próprio fundamentalismo [cristão] é um movimento religioso que tem suas origens num milenismo sionista. Os fundamentalistas são ardorosos defensores de Israel e da herança judaica.

Calvinismo Distorcido
          O calvinista DeMar deve estar tão desesperado para rotular como anti-semitas os pré-milenistas dispensacionalistas que chega até a adotar e defender a lógica arminiana de Wilson com relação à vontade de soberana de Deus. A interpretação de Wilson – de que a crença pré-milenista na certeza do cumprimento das profecias bíblicas levva à inação e ao fatalismo de seus seguidores – não só contraria os fatos, como seria considerada teologicamente errada por DeMar, se ele tivesse aplicado seu calvinismo a todas as questões que envolvem a soberania de Deus e a responsabilidade humana.

     DeMar não acredita – e nem eu – que o fato de Deus ter determinado quem será salvo e quem permanecerá perdido torne o crente obrigatoriamente fatalista e inativo em relação ao evangelismo ou a quer evento histórico. Na verdade, a história mostra que os calvinistas estiveram na dianteira dos movimentos evangelísticos. A história mostra, também, que os pré-milenistas lideraram os esforços de apoio ao povo judeu e a Israel, além de encabeçarem a oposição cristã ao anti-semitismo, exatamente como fazem hoje em dia. Se não fosse assim, não receberíamos essa avalanche de críticas por causa do amor  e apoio que damos a Israel.

De Braços Cruzados
Wilson , consequentemente, DeMar4 cometeram vários erros na caracterização dos pré-milenistas, no que diz respeito ao anti-semitismo. Wilson cita um poema que fala sobre anti-semitismo intitulado “Hands Off” (Tirem as Mãos), escrito por um pré-milenista. O poema dizia que era melhor os perseguidores dos judeus tirarem as mãos do povo de Deus, porque Ele iria castigá-los p or seu pecado. Wilson afirma que, nesse poema, o autor defende a tese de que os cristãos devem ficar de braços cruzados e não mover uma palha para defender os judeus oprimidos. Mas, na verdade, o objetivo do poema era dizer as pessoas como Hitler para tirarem sua mãos de cima dos judeus, e não encorajar os cristãos a não se envolverem com a perseguição que ocorria na Europa.

De Braços Dados
     Contrariando o ponto de vista de Wilson/DeMar, Rusch afirma que os pré-milenistas não ficaram sentados de braços cruzados, mas estiveram diretamente envolvidos na luta contra o anti-semitismo Rausch cita muitos exemplos de americanos e europeus prè-milenistas que alertaram sobre a onde de anti-semitismo que varria a Europa (principalmente a Alemanha e a Rússia), durante várias Conferências Proféticas5 realizadas entre 1878 e 1918. Rausch comenta que o dispensacionalista americano Arno Gaebelein, um imigrante alemão, “criticou severamente a cristandade gentílica em suas palestras e escritos, por causa de seus ataques aos judeus.6 Em 1895, ao retornar aos Estados Unidos depois de uma viagem à Alemanha, Gaebelein disse com tristeza:

     Realmente é verdade que a Alemanha Protestante odeia os judeus e, diante do que vi e ouvi, receio que, mais cedo ou mais tarde, outra perseguição hedionda acabe explodindo.
     O fato é que não havia muitos pré-milenistas na Alemanha nazista,  já que a maioria dos cristãos da época naquele pais era composta de liberais. Em toda a minha vida, nunca encontrei ou ouvi falar de um liberal que fosse pré-milenista. Joop Westerville, um dos líderes da resistência, fazia parte dos Irmãos de Plymouth e tem lugar de destaque no monumento israelense em memória aos “Justos da Nações”. A família de Corrie Ten Boom (autora do best-seler “O Refúgio Secreto”) era pré-milenista, e para os evangélicos ela é sinônimo de ativismo em defesa dos judeus na II Guerra Mundial. Rausch observa que, “contrariando a opinião popular, esse ponto de vista em relação à profecia (pré-milenismo) combateu o anti-semitismo e procurou reafirmar as promessas que Deus fez ao povo judeu através de Abraão – promessas bíblicas que os cristãos pós-milenistas haviam declarado nula e revogadas”.8

Mais Confusões de Wilson
     Wilson afirma que os pré-milenistas como Gaebelein “pareciam legitimar a atitude dos nazistas”,9 pois criticavam certas atividades dos judeus e não duvidavam da autencidade do documento anti-semita intitulado Protocolos dos Sábios de Sião. Wilson fala dos pré-milenistas como se o fato de não considerarem que os Protocolos eram forjados fosse a mesma coisa que achar que o que eles diziam era verdade. Os pré-milenistas como Gaebelein discordavam totalmente da propaganda anti-semita dos Protocolos, mas Wilson nem toca nesse assunto. As críticas dos pré-milenistas não podem de forma alguma ser tachadas de anti-semitismo. Contrariando Wilson, Rausch observa: “Foi a escatologia pré-milenista que levou os primeiros fundamentalistas a terem uma visão altamente positiva  da história e herança judaicas. Até mesmo nos comentários negativos não há malevolência em relação ao povo judeu, porque os proto-fundamentalistas acreditavam que todos os homens eeram indignos da graça de Deus e que até mesmo os proto-fundamentalists eram pecadores”.

O Amor dos Dispensacionalistas por Sião
     Creio que podemos afirmar com segurança que, nos 2000 anos de história da Igreja, nunca houve um grupo de cristãos que se preocupassem mais com o povo judeu e com seu distino do que os dispensacionalístas. Antes do surgimento do dispensacionalsmo, os cristãos não pareciam capazes de reconhecer que Deus tinha um plano para trazer glórias futuras à etnia judaica, sem isso implicasse em subordinar a Igreja ao judaísmo.

     O pai do dispensacionalismo moderno, J. N. Darby, desenvolveu sua teologia entre as décadas de 20 e 30 do século XIX, afirmando que o plano de Deus para a história incluía dois grupos de pessoas: Israel e a Igreja. Darby interpretou o Antigo Testamento literalmente, reconhecendo assim o destino futuro de Israel. A mesma forma de interpretação literal foi aplicada ao Novo Testamento e à Igreja. Não havendo espiritualizado nem Israel nem a Igreja, ele reconheceu na Bíblia dois povos de Deus. “Darby afirmou que foi a compreensão de que ‘uma parte  do plano de Deus ainda não havia se cumprido; um estado de coisas ainda não estava estabelecido’ que o levou a formular sua distinção entre Israel e a Igreja”.  Por causa da disseminação do ponto de vista dispensacionalista, “os pré-milenistas puderam dar ênfase à evangelização dos judeus [a apresentação do Messias a eles] e, ao mesmo tempo, passaram a apoiar as aspirações nacionalistas daquele povo”.
     De fato, o aumento do interesse pela evangelização dos judeus por parte dos dispensacionalistas foi documentado recentemente num novo estudo sobre o evangelismo judaico. Yaskov Ariel afirma:
     O surgimento do movimento de evangelização dos judeus nos Estados Unidos coincidiu com o surgimento do sionismo, o movimento nacionalista judaico cujo objetivo era a reconstrução da Palestina como pátria judaica. A comunidade missionária, assim como os dispensacionalistas americanos em geral, teve grande intereresse no que estava ocorrendo com o povo judeu [...].
     Talvez não seja de estranhar que os missionários dedicados à evangelização de judeus estivessem entre os maiores propagadores da crença pré-milenista dispensacionalista [...]. Eles condenavam o anti-semitismo e a discriminação contra os judeus em todo o mundo.

William E. Blackstone
     A teologia dispensacionalista explica porque essa forma de pré-milenismo foi a mais eficaz na evangelização de judeus, ao mesmo tempo que se colocava ao lado deles em causas como o sionismo. De fato, os dispensacionalistas foram os primeiros foram os primeiros defensores do sionismo, antes mesmo que assunto começasse a ser cogitado entre os judeus.
“Humanamente falando, a origem do sionismo não se deve, primeiramente, à comunidade judaica, mas aos esforços de um cristão, alguém que todos nós respeitamos e que sempre teve grande apreço pela obra missionária entre os judeus: William E. Blackstone”.
     Benjamin Netanyahu (ex-primeiro-ministro de Israel) também reconhece as raízes primitivas do sionismo cristão, ao declarar que ele “antecipou-se ao movimento sionista modernoem pelo menos meio século”.
     A constribuição de Blackstone foi reconhecida pela comunidade judaicaem 1918, através de Elisha M. Friedman, secretário da Sociedade Sionista Universitária de Nova Iorque, que declarou: “Cinco anosantes de Theodor Herzl, um cristão leigo bem conhecido, William E. Blackstone, já defendia o restabelecimento do Estado judeu”. Contrariando a imagem apresentada por DeMar e Wilson, Blackstone fornece outro exemplo de como os pré-milelistas jamis ficaram de “braços cruzados” na luta contra o anti-semitismo. “ Depois de viajar pela Europa, Egito e Palestina, em 1888, Blackstone organizou em Chicago, em 1890, uma das primeiras conferências de cristãos e judeus. Os  judeusda Rússia estavam sendo perseguidos, e Willliam Blackstone sentia que meras mensagens de solidariedade eram insuficientes”.

Conclusão
     Apesar de que dizem os críticos, que injustamente tentam nos denegrir, os pré-milenistas dispensacionalistas sempre foram os melhores amigos que o povo judeu teve entre os cristãos. Há anos, muitas pessoas em Israel têm reconhecido isso. O surpreendente é que, nos últimos tempos, até mesmo a comunidade ortodoxa percebeu que tem amigos e defensores dentro da comunidade cristã conservadora. Além do apoio a Sião, os pré-milenistas dispensacionalistas têm sido os líderes na evangelização da comunidade judaica durantea presente era da Igreja. Na minha opinião, esse apoio dos cristãos a Sião, que vemos hoje em dia, se estenderápor toda a eternidade. Maranata! (Pre-Trib Perspectives)

Thomas Ice é diretor-executivodo Pre-Trib Research Center (Centro de Estudos Pré-Tribulacionistas).


1.    

FONTE:
THOMAS, Ice, Notícias de Israel (Rio Grande do Sul: Chamada da Meia-Noite, 2004), pp.5-9  


terça-feira, 7 de maio de 2019

Cuidado Com os Cães!

‘cães’, cuidado com esses que praticam o mal, cuidado com a falsa circuncisão!”. Paulo passa esse tipo de advertência em quase todas as suas cartas. Ele adverte contra falsos mestres que penetram na igreja e ensinam algo diferente do que Paulo e os apóstolos. Ele descreve os falsos mestres como cães, como quem pratica o mal e como aqueles que introduzem uma falsa circuncisão. Quando se trata do evangelho, Paulo não contemporiza. Do ponto de vista atual, isso não é “politicamente correto”. Em nossos dias, muitos – especialmente políticos – procuram enfeitar o que dizem para de modo nenhum ferir alguém. Paulo, no entanto, não pode tolerar nada que afaste da doutrina da graça.

Quem são os cães a que Paulo se refere? Naqueles tempos, os cães eram diferentes daqueles que conhecemos hoje. Para nós, o cão é um animal doméstico e é tido como agradável, gentil e o melhor amigo. Naqueles tempos, porém, os cães eram selvagens, circulavam em bandos e só viviam em busca de vítimas. O mesmo comportamento é o dos falsos mestres que penetram na igreja. Eles procuram a quem possam devorar e onde estão os pontos fracos.

No Salmo 59.4-5 diz: “Mesmo eu não tendo culpa de nada, eles se preparam às pressas para atacar-me. Levanta-te para ajudar-me; olha para a situação em que me encontro! Ó Senhor, Deus dos Exércitos, ó Deus de Israel! Desperta para castigar todas as nações; não tenhas misericórdia dos traidores perversos”. Davi descreve aqui os descrentes, os pagãos. Mas em quem Paulo pensa? De certo modo, Paulo também se refere aos descrentes. Em Filipenses 3.3 ele enfatiza: “Pois nós é que somos a circuncisão”. Os falsos mestres eram judaístas e pregavam a circuncisão. Afirmavam que os crentes deveriam circuncidar-se para serem membros efetivos da igreja.

Paulo era judeu e em geral enfrentava oposição dos judeus. Aonde quer que ele fosse, seu primeiro destino era sempre a sinagoga. De fato, esse era o melhor ponto de partida para evangelizar numa cidade. Em geral, os judeus causavam então algum tumulto por não concordarem com Paulo. Onde há tumulto, costuma juntar gente para ver o que há. Uma oportunidade como essa pode ser aproveitada para pregar a todos. Assim, naquele tempo viviam no Império Romano muitos judeus espalhados por toda parte, e Deus usou essa situação para divulgar o evangelho. Paulo enfrentava oposição por perseguição. Os judaístas ensinavam “Jesus e a circuncisão” ou “Jesus e o sábado” ou “Jesus e uma outra lei”. Não era mais a graça somente.

Se alguém pregar um evangelho diferente daquele anunciado pelos apóstolos, ele será um falso mestre e amaldiçoado.


Paulo identifica esses “cães” também com “esses que praticam o mal”. O termo “praticam” designa pessoas ativas e que, nesse caso, vêm trazer um outro evangelho. Esse também era o problema das igrejas na Galácia: “Admiro-me de que vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro evangelho que, na realidade, não é o evangelho. O que ocorre é que algumas pessoas os estão perturbando, querendo perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós ou um anjo dos céus pregue um evangelho diferente daquele que pregamos a vocês, que seja amaldiçoado!” (Gl 1.6-8). Também aqui Paulo não deixa dúvidas. Ele diz que, se alguém pregar um evangelho diferente daquele anunciado pelos apóstolos, ele será um falso mestre e amaldiçoado.

Esses “que praticam o mal” talvez fossem externamente perfeitos, talvez seu estilo de vida parecesse impecável. Talvez tais pessoas tenham sido observadas e tenham impressionado com sua aparência exemplar e decente. No entanto, não devemos deixar-nos enganar: Satanás não é tolo, ele sabe como pode seduzir os crentes. Em Filipenses 3.18 Paulo escreve em prantos: “Pois, como já disse repetidas vezes, e agora repito com lágrimas, há muitos que vivem como inimigos da cruz de Cristo”. O apóstolo conhece o mal que esses inimigos poderão provocar. Ele adverte os filipenses a ficarem atentos e, com respeito aos judaístas, que deverão guardar-se do legalismo.

Tendemos facilmente a pensar que devemos oferecer algo a Deus para receber algo dele. É a natureza humana: se eu trabalhar, serei remunerado. Em parte, também pensamos assim em relação à obra da redenção: preciso fazer algo a fim de merecê-la.

Não, nós nada podemos oferecer a Deus. Jesus Cristo realizou tudo por nós. É graça e apenas graça. Será que isso significaria então que podemos fazer o que bem entendemos? Não, um cristão que pensa assim precisaria se questionar se ele realmente experimentou um novo nascimento. Um cristão em quem realmente habita o Espírito de Deus desejará viver segundo o padrão de Deus. Ele será transformado pelo Espírito de Deus. Mas se começarmos a pregar a necessidade de praticar isso e mais aquilo para conquistar a salvação, como por exemplo guardar sábados e determinadas festas, observar leis de pureza, jejuar, confessar-nos, isto será um outro evangelho, que não encontramos na Bíblia.

Naquele tempo, o que penetrava na igreja eram os judaístas e adicionalmente as marcas das religiões pagãs. E como é a situação nas nossas igrejas? Em Mateus 7.21-23 lemos: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor!’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês que praticam o mal!”.

Trata-se aqui de pessoas ativas na igreja, mas cuja motivação não é bíblica. Nem são renascidas e penetram na igreja por ganância. Essa gente, que Paulo chama de “cães” e praticantes do mal, introduzirá uma falsa circuncisão.

Teria Paulo algo contra a circuncisão? Em Filipenses 3.5 ele diz de si mesmo: “Circuncidado no oitavo dia”. Mas ali ele fala da sua vida quando ainda não era crente. Contudo, o que foi que ele fez depois com Timóteo? Atos 16.1-3 relata: “[Paulo] Chegou a Derbe e depois a Listra, onde vivia um discípulo chamado Timóteo. Sua mãe era uma judia convertida e seu pai era grego. Os irmãos de Listra e Icônio davam bom testemunho dele. Paulo, querendo levá-lo na viagem, circuncidou-o por causa dos judeus que viviam naquela região, pois todos sabiam que seu pai era grego”.

Paulo circuncidou Timóteo. A mãe de Timóteo era judia e sua circuncisão era uma expressão do seu pertencimento ao povo de Israel. Ele era judeu, e por isso não havia nenhum problema em que ele se circuncidasse. A circuncisão foi feita para que ele não escandalizasse os judeus. Paulo mesmo escreveu que ele se tornou judeu para os judeus e grego para os gregos (1Co 9.20-21). Esse foi um passo muito sábio de Paulo a fim de não se expor desnecessariamente a ataques. No entanto, isso de modo nenhum significa que ele pregasse a circuncisão. Ele enfatizava que aqueles que introduziam a falsa circuncisão exigiam a circuncisão de todos.

Também nós precisamos ficar atentos em relação ao judaísmo para não nos ocuparmos com coisas que nos conduzam de volta à lei da antiga aliança ou de introduzi-las em nossa vida, afastando-nos assim da graça de Cristo. Pergunto-me por que um cristão deveria de repente colocar um quipá na cabeça se o Senhor e os apóstolos não mandaram fazer isso. Talvez alguém goste disso, mas o faz para quem? E se alguém quiser guardar o sábado, que o faça, mas então essa pessoa deveria guardar ainda muito mais da lei da antiga aliança. Temos alguém que cumpriu toda a lei: Jesus Cristo. Ele nos salvou. O objetivo de Paulo era anunciar que não precisamos mais retornar à lei.

Deus não quer que vivamos a nossa fé em função da nossa própria força, porque assim fracassaremos.


Ele explica: “Porque nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne” (Fp 3.3, RA). Nós que pertencemos a Jesus Cristo é que somos a circuncisão, tanto gentios como judeus. Deus não quer que vivamos a nossa fé em função da nossa própria força, porque assim fracassaremos. A nossa própria força nos levará ao desespero.

Quando Paulo enfatiza aqui o termo “carne”, ele não se refere a algum comportamento pecaminoso. A lei não é pecado; antes, a lei revela a nossa pecaminosidade. Quando a Bíblia fala de carne, geralmente ela trata da oposição entre a carne e o espírito. Muitas vezes interpretamos a ideia de “carne” como pecado, imoralidade, adultério, prostituição, mas aqui não se trata de pecado e sim de algo que queremos alcançar na carne por meio da nossa própria força. A carne é a essência do “eu”: eu preciso fazer, eu preciso cumprir a lei, eu preciso orar cinco vezes por dia etc. Confiar na carne busca uma redenção por obras – e nesse caso estaríamos perdidos. Quando vivemos no Espírito, não nos orgulhamos do nosso próprio desempenho, mas tão somente de Cristo, e é exatamente isso que Paulo faz nos versículos seguintes, em que ele mostra que, se um judeu pudesse orgulhar-se de tudo aquilo que conseguiu por meio da carne, então esse judeu seria ele mesmo. Mas Paulo considera tudo isso como perda, como lixo. Para Paulo, Jesus Cristo tornou-se tudo.

“Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie. Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos” (Ef 2.8-10).

Autor: Natanael Winkler , Site da Chamada da Meia-Noite