“Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem;
em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12.3) – Deus falando
a Abraão.
Nos
últimos dois anos, nos EUA, a comunidade secular e alguns membros da comunidade
religiosa acordaram para o fato de que a maior parte dos evangélicos é
pró-Israel. E, adivinhem? Eles não gostaram nem um pouco. A mídia está cheia de
artigos sobre os supostos perigos do apoio que os cristãos dão a Israel. Um dos
que mais chamou a atenção foi publicado na edição de 23 de maio de 2002 no Wall Street Journal, com o título: “Como
Israel se tornou a causa predileta da direita cristã”. Algumas pessoas ficaram
horrorizadas com isso.
O Sionismo Cristão na Atualidade
No
início, citei Gênesis 12.3, onde Deus promete abençoar os que abençoarem Abraão
e seus descendentes (isto é, Israel). Será que essa promessa ainda está
valendo? Se a Bíblia deve ser interpretada literalmente e essa passagem ainda
se aplica a Israel, e não à Igreja, ninguém deveria se surpreender que crentes
– entre os quais me incluo – abracem o sionismo cristão. O sionismo é
simplesmente o desejo de que o povo judeu ocupe a terra de Israel. Portanto,
cristãos sionistas são todos aqueles que defendem essa causa.
No primeiro semestre de 1992, a revista Christianity Today (Cristianismo Hoje)
publicou uma matéria de capa sobre o sionismo cristão. O artigo For the Love of
Zion (Por amor de Sião) foi escrito num tom geral de crítica aos cristãos
sionistas, o que é normal em se tratando da Christianity Today. O texto dizia
que o apoio dos evangélicos a Israel ainda era grande, mas já havia atingido
seu ponto máximo e estava em declínio. Entretanto, atualmente, mais de uma
década depois, a opinião geral é de que o sionismo cristão vem crescendo.
Entretanto, o número de cristãos que se opõem a ele também tem aumentado.
Em fevereiro de 2003, a Organização
Sionista da América divulgou os resustados de uma extensa pesquisa de opinião
realizada pela empresa especializada John McLaughlin e Associados. A análise
dos dados indicava um crescente apoio dos americanos ao moderno Estado de
Israel, em detrimento do Estado palestino. O resultado foi: 71% dos americanos
se opunham à criação de um Estado palestino e quase a mesma porcentagem se opunha
a qualquer apoio aos árabes palestinos. A maior parte desse apoio a Israel vem,
certamente, dos chamados cristãos sionistas.
Cristãos Anti-Sionistas
Pela primeira vez na história, cristãos
declaradamente anti-sionistas (muitos deles evangélicos) parecem estar
promovendo uma campanha cada vez mais intensa contra Israel. Um documento publicado no site do Seminário Teológico Knox,
fundado e presidido por D. James Kennedy – que, curiosamente, não assinou –
acusa os que dão apoio ao moderno Estado
de Israel de estarem envolvidos “num grave erro de interpretação da Sagrada
Escritura”. Ora, não me digam!
Stephen Sizer está escrevendo um volumoso
livro contra o sionismo cristão, intitulado Christian Zionism: Fueling the
Arab-Israeli Conflict (Sionismo Cristão: Pondo Lenha na Fogueira do Conflito
Entre Árabe e Judeus), que será lançado pela Inter-Versit Press. Imagino que
essa ideia tenha se tornado tão forte que os editores acharam necessário
publicar esse livro. Collin Chapman
também escreveu um livro que, em essência, é anti-sionista: Whose Promised
Land? The Continuing Crisis Over Israel and Palestine (De Quem é a Terra Prometida?
A Crise Interminável que Envolve Israel e a Palestina, Baker, 2002). Nesse
livro ele tenta refutar o ensinamento bíblico sobre o direito do povo judeu à
terra de Israel.
Durante muitos anos, Gary DeMar exibiu se
anti-sionismo nas muitas versões de Last Days Madness (A Loucura dos Últimos
Dias). Num apêndice intitulado “Anti-Semitismo e Escatologia”, DeMar cita um
trecho do livro Armageddon Now! (Armagedom Já!), escrito por Dwight Wilson, dizendo
que o pré-milenismo fomentou o anti-semitismo durante o Holocausto. Wilson e
DeMar fizeram uma afirmação ridícula que não tem o menor fundamento histórico.
DeMar escreve: “Wilson afirma que foi a concepção dos pré-milenistas a respeito
de uma perseguição predita aos judeus antes da Segunda Vinda que fez com que
eles ficassem inativos quando chegou a hora de denunciar o odioso
‘anti-semitismo’.”
O modo como Wilson, e depois DeMar,
interpretam os registros dos pré-milenistas a respeito desse assunto está
totalmente errado. O historiador David Rausch afirma corretamente que:
Essa teoria do “anti-semitismo
fundamentalista” não só é tendenciosa, como está totalmente equivocada. Os
protestantes fundamentalistas não, e nunca foram, anti-semitas. Na verdade, o
próprio fundamentalismo [cristão] é um movimento religioso que tem suas origens
num milenismo sionista. Os fundamentalistas são ardorosos defensores de Israel
e da herança judaica.
Calvinismo Distorcido
O
calvinista DeMar deve estar tão desesperado para rotular como anti-semitas os
pré-milenistas dispensacionalistas que chega até a adotar e defender a lógica
arminiana de Wilson com relação à vontade de soberana de Deus. A interpretação
de Wilson – de que a crença pré-milenista na certeza do cumprimento das
profecias bíblicas levva à inação e ao fatalismo de seus seguidores – não só
contraria os fatos, como seria considerada teologicamente errada por DeMar, se
ele tivesse aplicado seu calvinismo a todas as questões que envolvem a
soberania de Deus e a responsabilidade humana.
DeMar não acredita – e nem eu – que o fato
de Deus ter determinado quem será salvo e quem permanecerá perdido torne o
crente obrigatoriamente fatalista e inativo em relação ao evangelismo ou a quer
evento histórico. Na verdade, a história mostra que os calvinistas estiveram na
dianteira dos movimentos evangelísticos. A história mostra, também, que os
pré-milenistas lideraram os esforços de apoio ao povo judeu e a Israel, além de
encabeçarem a oposição cristã ao anti-semitismo, exatamente como fazem hoje em
dia. Se não fosse assim, não receberíamos essa avalanche de críticas por causa
do amor e apoio que damos a Israel.
De Braços Cruzados
Wilson ,
consequentemente, DeMar4 cometeram vários erros na caracterização dos
pré-milenistas, no que diz respeito ao anti-semitismo. Wilson cita um poema que
fala sobre anti-semitismo intitulado “Hands Off” (Tirem as Mãos), escrito por
um pré-milenista. O poema dizia que era melhor os perseguidores dos judeus
tirarem as mãos do povo de Deus, porque Ele iria castigá-los p or seu pecado.
Wilson afirma que, nesse poema, o autor defende a tese de que os cristãos devem
ficar de braços cruzados e não mover uma palha para defender os judeus oprimidos.
Mas, na verdade, o objetivo do poema era dizer as pessoas como Hitler para
tirarem sua mãos de cima dos judeus, e não encorajar os cristãos a não se
envolverem com a perseguição que ocorria na Europa.
De Braços Dados
Contrariando
o ponto de vista de Wilson/DeMar, Rusch afirma que os pré-milenistas não
ficaram sentados de braços cruzados, mas estiveram diretamente envolvidos na
luta contra o anti-semitismo Rausch cita muitos exemplos de americanos e
europeus prè-milenistas que alertaram sobre a onde de anti-semitismo que varria
a Europa (principalmente a Alemanha e a Rússia), durante várias Conferências
Proféticas5 realizadas entre 1878 e 1918. Rausch comenta que o dispensacionalista
americano Arno Gaebelein, um imigrante alemão, “criticou severamente a
cristandade gentílica em suas palestras e escritos, por causa de seus ataques
aos judeus.6 Em 1895, ao retornar aos Estados Unidos depois de uma viagem à
Alemanha, Gaebelein disse com tristeza:
Realmente é verdade que a Alemanha
Protestante odeia os judeus e, diante do que vi e ouvi, receio que, mais cedo
ou mais tarde, outra perseguição hedionda acabe explodindo.
O fato é que não havia muitos
pré-milenistas na Alemanha nazista, já
que a maioria dos cristãos da época naquele pais era composta de liberais. Em
toda a minha vida, nunca encontrei ou ouvi falar de um liberal que fosse
pré-milenista. Joop Westerville, um dos líderes da resistência, fazia parte dos
Irmãos de Plymouth e tem lugar de destaque no monumento israelense em memória aos
“Justos da Nações”. A família de Corrie Ten Boom (autora do best-seler “O
Refúgio Secreto”) era pré-milenista, e para os evangélicos ela é sinônimo de
ativismo em defesa dos judeus na II Guerra Mundial. Rausch observa que,
“contrariando a opinião popular, esse ponto de vista em relação à profecia
(pré-milenismo) combateu o anti-semitismo e procurou reafirmar as promessas que
Deus fez ao povo judeu através de Abraão – promessas bíblicas que os cristãos
pós-milenistas haviam declarado nula e revogadas”.8
Mais Confusões de Wilson
Wilson
afirma que os pré-milenistas como Gaebelein “pareciam legitimar a atitude dos
nazistas”,9 pois criticavam certas atividades dos judeus e não duvidavam da
autencidade do documento anti-semita intitulado Protocolos dos Sábios de Sião. Wilson fala dos pré-milenistas como
se o fato de não considerarem que os Protocolos
eram forjados fosse a mesma coisa que achar que o que eles diziam era
verdade. Os pré-milenistas como Gaebelein discordavam totalmente da propaganda
anti-semita dos Protocolos, mas
Wilson nem toca nesse assunto. As críticas dos pré-milenistas não podem de
forma alguma ser tachadas de anti-semitismo. Contrariando Wilson, Rausch
observa: “Foi a escatologia pré-milenista que levou os primeiros
fundamentalistas a terem uma visão altamente positiva da história e herança judaicas. Até mesmo nos
comentários negativos não há malevolência em relação ao povo judeu, porque os
proto-fundamentalistas acreditavam que todos os homens eeram indignos da graça
de Deus e que até mesmo os proto-fundamentalists eram pecadores”.
O Amor dos Dispensacionalistas por Sião
Creio que podemos afirmar com segurança
que, nos 2000 anos de história da Igreja, nunca houve um grupo de cristãos que
se preocupassem mais com o povo judeu e com seu distino do que os
dispensacionalístas. Antes do surgimento do dispensacionalsmo, os cristãos não
pareciam capazes de reconhecer que Deus tinha um plano para trazer glórias
futuras à etnia judaica, sem isso implicasse em subordinar a Igreja ao
judaísmo.
O pai do dispensacionalismo moderno, J. N.
Darby, desenvolveu sua teologia entre as décadas de 20 e 30 do século XIX,
afirmando que o plano de Deus para a história incluía dois grupos de pessoas:
Israel e a Igreja. Darby interpretou o Antigo Testamento literalmente,
reconhecendo assim o destino futuro de Israel. A mesma forma de interpretação
literal foi aplicada ao Novo Testamento e à Igreja. Não havendo espiritualizado
nem Israel nem a Igreja, ele reconheceu na Bíblia dois povos de Deus. “Darby
afirmou que foi a compreensão de que ‘uma parte
do plano de Deus ainda não havia se cumprido; um estado de coisas ainda
não estava estabelecido’ que o levou a formular sua distinção entre Israel e a
Igreja”. Por causa da
disseminação do ponto de vista dispensacionalista, “os pré-milenistas puderam
dar ênfase à evangelização dos judeus [a apresentação do Messias a eles] e, ao
mesmo tempo, passaram a apoiar as aspirações nacionalistas daquele povo”.
De fato, o aumento do interesse pela
evangelização dos judeus por parte dos dispensacionalistas foi documentado
recentemente num novo estudo sobre o evangelismo judaico. Yaskov Ariel afirma:
O surgimento do movimento de evangelização
dos judeus nos Estados Unidos coincidiu com o surgimento do sionismo, o
movimento nacionalista judaico cujo objetivo era a reconstrução da Palestina
como pátria judaica. A comunidade missionária, assim como os dispensacionalistas
americanos em geral, teve grande intereresse no que estava ocorrendo com o povo
judeu [...].
Talvez não seja de estranhar que os
missionários dedicados à evangelização de judeus estivessem entre os maiores
propagadores da crença pré-milenista dispensacionalista [...]. Eles condenavam
o anti-semitismo e a discriminação contra os judeus em todo o mundo.
William E. Blackstone
A
teologia dispensacionalista explica porque essa forma de pré-milenismo foi a
mais eficaz na evangelização de judeus, ao mesmo tempo que se colocava ao lado
deles em causas como o sionismo. De fato, os dispensacionalistas foram os
primeiros foram os primeiros defensores do sionismo, antes mesmo que assunto
começasse a ser cogitado entre os judeus.
“Humanamente
falando, a origem do sionismo não se deve, primeiramente, à comunidade judaica,
mas aos esforços de um cristão, alguém que todos nós respeitamos e que sempre
teve grande apreço pela obra missionária entre os judeus: William E.
Blackstone”.
Benjamin Netanyahu (ex-primeiro-ministro
de Israel) também reconhece as raízes primitivas do sionismo cristão, ao
declarar que ele “antecipou-se ao movimento sionista modernoem pelo menos meio
século”.
A
constribuição de Blackstone foi reconhecida pela comunidade judaicaem 1918,
através de Elisha M. Friedman, secretário da Sociedade Sionista Universitária
de Nova Iorque, que declarou: “Cinco anosantes de Theodor Herzl, um cristão leigo
bem conhecido, William E. Blackstone, já defendia o restabelecimento do Estado
judeu”. Contrariando a
imagem apresentada por DeMar e Wilson, Blackstone fornece outro exemplo de como
os pré-milelistas jamis ficaram de “braços cruzados” na luta contra o
anti-semitismo. “ Depois de viajar pela Europa, Egito e Palestina, em 1888,
Blackstone organizou em Chicago, em 1890, uma das primeiras conferências de
cristãos e judeus. Os judeusda Rússia
estavam sendo perseguidos, e Willliam Blackstone sentia que meras mensagens de
solidariedade eram insuficientes”.
Conclusão
Apesar de que dizem os críticos, que
injustamente tentam nos denegrir, os pré-milenistas dispensacionalistas sempre
foram os melhores amigos que o povo judeu teve entre os cristãos. Há anos,
muitas pessoas em Israel têm reconhecido isso. O surpreendente é que, nos
últimos tempos, até mesmo a comunidade ortodoxa percebeu que tem amigos e
defensores dentro da comunidade cristã conservadora. Além do apoio a Sião, os
pré-milenistas dispensacionalistas têm sido os líderes na evangelização da
comunidade judaica durantea presente era da Igreja. Na minha opinião, esse
apoio dos cristãos a Sião, que vemos hoje em dia, se estenderápor toda a
eternidade. Maranata! (Pre-Trib Perspectives)
Thomas
Ice é diretor-executivodo Pre-Trib Research Center (Centro de Estudos
Pré-Tribulacionistas).
1.
FONTE:
THOMAS,
Ice, Notícias de Israel (Rio Grande do Sul: Chamada da Meia-Noite, 2004),
pp.5-9
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